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sábado, 20 de agosto de 2011

Morte de Tiradentes tem Contestação

Para historiador, ladrão teria assumido identidade em troca de
dinheiro

Carlos Eduardo Lins da Silva

A morte de Tiradentes tem contestação da Sucursal de Brasília. Há
30 anos o historiador carioca Marcos Correa vem tentando comprovar sua
suspeita de que Tiradentes não morreu enforcado em 21 de abril de 1792 .A
desconfiança lhe surgiu em Lisboa, em 1969, quando Correa viu fotocópias
de listas de presença na galeria da Assembléia Nacional francesa em 1793.
Lá, estava a assinatura de José Bonifácio de Andrada e Silva, que era o
objeto de suas pesquisas naquela época.Próximo à dele, também aparecia
a de um Antonio Xavier da Silva.
Funcionário do Banco do Brasil, Correa se formara em grafotecnia e,
por acaso, havia estudado muito a assinatura de Joaquim José da Silva
Xavier, o Tiradentes.Com o auxílio do amigo português professor Rodrigues
Lapa, Correa confrontou as assinaturas de Antonio e Joaquim José: "a
semelhança era impressionante".A partir dali, começou a sua "busca da
verdade" sobre Tiradentes , que ele espera ver publicado em livro no ano
que vem.Sem sentido Uma renomada especialista em Inconfidência
Mineira, Laura de Mello e Sousa, acha que a hipótese de Correa "não faz
sentido nenhum" e é "pouco provável".Embora admita só ter "evidências
circunstanciais", no entanto, Correa, 70, baseia-se em autores do passado
e em descrições de eventos de contemporâneos da Inconfidência para tecer
seu enredo.Segundo ele, um ladrão, o carpinteiro Isidro de Gouveia,
condenado à morte em 1790, assumiu a identidade de Tiradentes em troca
de ajuda financeira à sua família, oferecida a ele pela maçonaria.Correa, exprofessor
da Universidade Santa Úrsula, no Rio, cita testemunhas da
caminhada de Tiradentes ao cadafalso que se diziam surpresas porque ele
aparentava ter menos que seus 45 anos.Citando um livro de Martim
Francisco Terceiro ("Contribuindo", de 1921) e outro de Hipólito da Costa
("Narrativa da Perseguição", de 1811), entre outros, Correa vai desfiando
suas hipóteses.Tiradentes teria sido beneficiado por um dos juízes da
Devassa, o poeta Cruz e Silva, que tinha sido amigo de muitos dos
inconfidentes (Laura Mello e Souza diz que Cruz e Silva, na verdade, foi
designado para endurecer o tratamento penal dado a seus ex-amigos).De
acordo com Correa, Tiradentes havia salvado a vida de Cruz e Silva, que
também era maçom. Amante O juiz nunca mais voltou a Portugal, mas,
segundo Correa, Tiradentes , sua amante (conhecida como Perpétua
Mineira) e os filhos de Isidro de Gouveia embarcaram incógnitos na nau
Golfinho, em agosto de 1792, para Lisboa.Correa fala de carta do
desembargador Simão Sardinha, na Torre do Tombo, em Lisboa, na qual
diz ter-se encontrado, na Rua do Ouro, em dezembro de 1792, com alguém
parecido com Tiradentes , a quem conhecera no Brasil, que saiu correndo
quando o viu.Pela teoria, Tiradentes voltou ao Brasil em 1806, abriu uma
botica na casa da Perpétua Mineira, na rua dos Latoeiros (hoje Gonçalves
Dias), e morreu em 1818.
SILVA, Carlos Eduardo Lins da. Morte de Tiradentes tem contestação.
Folha de S. Paulo, São Paulo, 21 abr. 1999

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